sexta-feira, 9 de maio de 2008

Estudando a Verdade da Vida




Desde que Adão cometeu o pecado original (que constitui o “primeiro encobrimento da natureza divina do homem”), a idéia de pecado está arraigada nas camadas profundas da mente de todo homem carnal.

Dos primórdios da humanidade até os dias atuais, existiram somente duas pessoas que tiveram, desde o princípio, a consciência de serem isentos de pecado.

Um deles foi Sakyamuni (Buda), que, segundo as escrituras budistas, tão logo nasceu declarou “No céu e na terra, sou o ser supremo!”, e imediatamente caminhou sete passos.


O outro foi Jesus Cristo, que chamou a si mesmo de “filho Unigênito de Deus”.

Mas, agora, também conscientizei que sou isento de pecado e que a “humanidade toda é isenta de pecado”, e estou convicto de que transmitir essa Verdade para toda a humanidade é o único caminho correto para conduzi-la à salvação.

Por que ocorre a idéia de pecado no ser humano, que é originariamente isento de pecado e impurezas?


A idéia de pecado ocorre justamente porque nós, seres humanos, sabemos que originariamente somos isentos de pecado.


Um cego de nascença, que nunca em sua vida viu a luz, não tem noção da treva, mesmo estando na treva.

Um sapo que nasceu e cresceu num poço estreito e nunca conheceu a liberdade não sentirá a falta de liberdade mesmo que permaneça naquele espaço exíguo.


Numa história de terror intitulado O Monstro da Ilha, o escritor japonês Edogawa Rampo narra a vida de dois seres humanos que, tendo sido levados a uma ilha deserta quando eram ainda bebês e submetidos a uma operação que consistiu em unir toda a extensão das costas de ambos e torná-los um “monstro de duas cabeças, quatro braços e quatro pernas”, ali cresceram e viveram confinados.


Como nunca tiveram contato com outras pessoas, eles pensavam que esse corpo incômodo de “duas cabeças, quatro braços e quatro pernas” fosse o aspecto normal de todo ser humano.

Mas um dia, tendo visto o aspecto livre de seres humanos normais, com uma cabeça dois braços e duas pernas, compreenderam pela primeira vez que seu aspecto grotesco não era o verdadeiro aspecto do ser humano, e passaram a sentir profundo sofrimento.


Assim é a idéia de pecado.


A conscientização de não estar manifestando o aspecto original perfeito é que constitui a consciência de pecado.

Podemos dizer que a consciência de pecado é o gemido da alma do ser humano que busca, sofregamente, exprimir o seu aspecto original perfeito e livre.


Comparemos nosso aspecto original à brasa: cobrindo-se as brasas com poeira, lixo etc., levanta-se fumaça.


Essa fumaça é comparável à consciência de pecado do ser humano.


Não havendo brasa no braseiro, não se forma fumaça; e mesmo havendo brasa, se ela não for coberta por elementos tais como poeira, lixo etc., não se forma fumaça.

Todavia, a brasa em si não constitui a fumaça, e também os elementos como poeira ou lixo, em si, não constituem a fumaça.

O que forma a fumaça é o processo em que a brasa procura avivar-se, queimando os elementos indesejáveis que a cobrem.


O mesmo ocorre conosco.

Nossa Imagem Verdadeira, em si, é isenta de pecados e ilusões.


Portanto, a consciência de pecado não existe no nosso verdadeiro “eu”, do mesmo modo que a fumaça não existe na brasa em si.


Contudo, quando a nossa Imagem Verdadeira fica encoberta por ilusões, surge em nós a consciência de pecado para que essas ilusões sejam extinguidas.


A fumaça é uma forma de manifestação do poder calorífico da brasa, ou seja, é o processo em que a brasa procura queimar os elementos indesejáveis que a cobrem.

Se o poder calorífico da brasa for muito fraco, não se formará fumaça, mesmo que a brasa esteja coberta de poeira.

Analogamente, se a Imagem Verdadeira de nossa Vida estiver profundamente adormecida, não surgirá em nós a consciência de pecado.

Se o poder calorífico da brasa for muito grande, o lixo que estiver em torno dela queimar-se-á num instante, sem que ocorra a formação de fumaça.


Do mesmo modo, se a Imagem Verdadeira de nossa vida estiver completamente desperta, as eventuais ilusões serão instantaneamente extinguidas, sem que surja em nós a consciência de pecado, e nossa vida se iluminará completamente.


A religião tem a finalidade de avivar a força latente da Imagem Verdadeira da Vida, que é como o poder calorífico da brasa.


Quando o poder calorífico da brasa se intensifica, a poeira, o lixo etc., que estão ao redor dela, queimam-se provocando muita fumaça.


É compreensível que muitas religiões procurem avivar nas pessoas a consciência de pecado, no intuito de conduzi-las à salvação.


Mas, como foi explicado acima, a consciência de pecado é como fumaça, e provocar a formação de fumaça sem se importar com a brasa em si é inverter a ordem das coisas.

A fumaça, o dióxido de carbono etc. são uma espécie de gás tóxico.

E, quando eles se formam em grande quantidade num ambiente fechado, podem apagar a brasa. O mesmo se pode dizer acerca da consciência de pecado do ser humano.Muitos religiosos pregam que o ser humano é uma criatura insignificante, um pecador, um ser cheio de perversidade e pecados, por pensarem que, provocando nas pessoas a consciência de pecado – que corresponde à fumaça –, estão ajudando-as a avivarem suas “chamas da Vida”.

Para avivar a “chama da Vida” não precisamos provocar o surgimento da fumaça chamada consciência de pecado.

Se fizermos com que todos os lixos e poeiras da mente se queimem de uma só vez, a “chama da Vida” passará, imediatamente, a arder com grande intensidade.

Para fazer com que as poeiras e os lixos da mente – as ilusões – queimem-se de uma só vez e a “chama da Vida” passe a brilhar intensamente, é imprescindível procedermos a um eficiente arejamento da mente.

Que significa arejar a mente?

expulsar de nossa mente todos os gases nocivos e, em troca, absorver oxigênio.

Quando aumenta dentro da mente a fumaça chamada consciência de pecado, a “chama da Vida” poderá ou transformar-se numa chama intensa ou acabar sufocada.


Se a oxigenação da mente não for eficiente, a fumaça se tornará densa, sufocando a “chama da Vida”; mas, se o arejamento da mente for eficiente, todas as poeiras e lixos da mente se queimarão rapidamente, transformando-se em chama ardente que alumia o mundo.


Mas em que consiste esse arejamento da mente que nos possibilita expulsar a fumaça chamada consciência de pecado?

na conscientização da Imagem Verdadeira da Vida; consiste em compreender que o nosso verdadeiro Eu não é tenebroso como uma fumaça negra, como imaginávamos; consiste em compreender que o pecado não constitui o nosso verdadeiro eu, do mesmo modo que a fumaça não é o fogo em si, e deixar que a fumaça chamada consciência de pecado dissipe por si mesma.

Se até agora a fumaça chamada consciência de pecado não se dissipava e continuava a nos envolver, era porque nós próprios a mantínhamos conosco, criando uma cortina mental que prendia a idéia de que o pecado faz parte de nós.

Essa cortina impedia que a consciência de pecado se dissipasse da nossa mente.

Ao despertarmos para a Verdade de que o homem é originariamente Deus, desfaz-se a cortina mental que nos mantinha envoltos no pecado.

Então, volvendo-nos exclusivamente para a nossa Imagem Verdadeira, que é Deus, passamos a ter a mente sempre positiva, alegre e bem arejada. Nossa alma, que estava voltada para o lado do pecado e das ilusões, dá meia-volta e passa a contemplar a Imagem Verdadeira da Vida, que é Deus – a isso se chama de conversão da alma.

Porém, para volvermos a mente para a Imagem Verdadeira da nossa vida, que é Deus, é necessário que tenhamos aversão ao pecado.

Aquele que confunde o seu aspecto pecador com a sua Imagem Verdadeira, que confunde o defeito com a virtude e que concede a si mesmo um leviano autoperdão, pensando “Tenho pecados, mas não faz mal”, está confundindo o seu verdadeiro Eu com o seu falso eu.


Se surge fumaça de um lugar, é sinal de que ali há fogo; todavia, não devemos confundir a fumaça com o fogo.

Não devemos pensar que a fumaça é o fogo em si.

Da mesma forma, não devemos ter a presunção de que nosso aspecto pecador é o nosso aspecto original de filho de Deus.

Para avivar o fogo, é preciso expulsar a fumaça.

As pessoas não suportam a fumaça. Por isso, quando a fogueira faz muita fumaça, trazem um abano e agitam-no para expulsá-la.

Então, a chama se aviva e passa a arder intensamente.

O mesmo acontece com o ser humano, quando se intensifica a consciência de pecado.

Se por um lado existem pessoas que são dominadas pela consciência de pecado e não conseguem reagir, por outro lado existem aquelas que possuem acesa na alma a consciência de filho de Deus, e, no caso dessas pessoas, quando a aversão ao pecado chega ao auge, desencadeia-se a conversão e sua alma começa a arder repentina e intensamente, produzindo uma grande chama religiosa.

Por que uns sucumbem à consciência de pecado, outros, pelo contrário, reagem a ela e fazem arder em suas almas a imensa chama de fé e alegria?

As pessoas que mantêm em seu íntimo, como se fosse uma brasa inextinguível, a firme convicção de que sua Imagem Verdadeira é filha de Deus conseguem reagir à consciência de pecado e fazer arder uma grande chama em sua alma.

Mas aquelas cuja convicção de filha de Deus é fraca como uma brasa prestes a se apagar são dominadas pela fumaça chamada consciência de pecado, têm a chama de sua Vida sufocada por essa fumaça e, em desespero, acabam sucumbindo.

Portanto, os religiosos, cuja missão é salvar as almas humanas, precisam agir com sabedoria ao lidarem com a consciência de pecado das pessoas.


(Do livro 'A Verdade da Vida', vol. 13 - págs. 96 a 102)


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